#89 Uma análise da boa sobre Elon Musk, as duas frentes de engenharia da Palantir, IA & energia e o equívoco dos mercados de predição
Sonhos
Ben Thompson condensa em um tom bem sóbrio o impacto das ambições de Elon Musk no cenário tecnológico, especialmente com SpaceX e Tesla, ao destacar a diferença entre sonhos ousados e abordagens empresariais convencionais. A SpaceX, por exemplo, visa muito mais do que lucros imediatos — é uma empresa movida pelo sonho de colonizar Marte. A reutilização de foguetes, como visto no recente sucesso do Starship, prova como a insistência em soluções inovadoras pode realmente revolucionar mercados. Em contraste, empresas como a Arianespace falham ao não adotar essa mentalidade de “sonho”, permanecendo restritas às abordagens tradicionais, que são menos competitivas.
O compilado também retrata o evento "We, Robot", da Tesla, como uma decepção ao apresentar poucos detalhes sobre a tecnologia de robotaxis. Musk continua apostando na autonomia completa sem uso de sensores caros como o LiDAR, diferentemente da Waymo, que lidera o mercado com uma abordagem super conservadora e precisa. O fato é que o foco de Musk em soluções de longo prazo é o que pode transformar completamente indústrias inteiras.
Por fim, o artigo faz referência ao ensaio “The Bitter Lesson”, que explora como grandes avanços em IA vêm de processos automatizados e com grande poder computacional, e não das tentativas humanas de controlar todos os aspectos do desenvolvimento. Essa filosofia é comparada às apostas de Musk tanto na Tesla quanto na SpaceX, onde começar com o sonho e depois ajustar os custos é a chave para alcançar a verdadeira transformação.
Tim Urban traz uma abordagem bem inusitada sobre o impacto do Elon Musk na exploração espacial. Fascinado pelo espaço e pela exploração espacial por conta de missões como Apollo e o pouso na Lua, ele viu esse entusiasmo esfriar à medida que o investimento público em exploração espacial diminuiu após o fim da Guerra Fria. E, com o tempo, a NASA passou a depender de outros países para enviar astronautas ao espaço.
Essa narrativa mudou com a SpaceX, do Musk, que revolucionou a indústria ao conseguir o feito inédito de lançar e reutilizar foguetes. E Urban descreve como foi assistir ao lançamento do Starship, um foguete projetado para colonizar Marte, com a surrealidade de ver esse "arranha-céu" retornando à Terra após a missão. Mesmo tendo partilhado esse momento com sua filha pequena, ainda incapaz de compreender a grandiosidade do momento, ele sentiu que estava plantando uma semente da admiração por aquilo que a humanidade pode alcançar.
Palantir
Nabeel Qureshi compartilha suas experiências e aprendizados após oito anos trabalhando na Palantir. Esse artigo traz suas reflexões sobre a transformação da empresa, desde a fase inicial marcada por controvérsias e críticas, até o recente sucesso, com a inclusão no S&P 500 e um valor de mercado próximo a US$ 100 bilhões. Por meio da sua própria história, Qureshi perfila a companhia, destacando o alto nível de talento e intelectualidade entre seus colaboradores.
Me chamou bastante atenção o conceito de forward deployed engineers e product engineers, duas abordagens diferentes de desenvolvimento de software. Enquanto um foca na resolução de problemas reais no local do cliente, outro se concentra em tornar essas soluções escaláveis e reusáveis. Mas vale trazer isso em maior profundidade:
Forward Deployed Engineers (FDEs) - Esses engenheiros são, essencialmente, "implantados" no cliente. Eles trabalham diretamente nas instalações do cliente, geralmente 3 a 4 dias por semana, o que envolve muitas viagens. O foco dos FDEs é entender profundamente os processos de negócios e as necessidades do cliente em setores complexos, como manufatura, saúde ou aeroespacial. Ao interagir de perto com o cliente, eles ganham um conhecimento detalhado das operações, o que permite projetar e implementar soluções de software personalizadas que resolvem problemas específicos. A ideia é que essa proximidade permita capturar o que é chamado de "conhecimento tácito", que vai além dos requisitos formais e geralmente é ignorado por outras abordagens de desenvolvimento de software.
Product Engineers (PDs) - Os engenheiros de produto, por outro lado, trabalham no desenvolvimento do produto principal da empresa. Eles raramente interagem diretamente com os clientes. Seu papel é pegar as soluções desenvolvidas pelos FDEs e "produtizar" essas soluções, ou seja, transformá-las em ferramentas ou produtos mais amplos e escaláveis que possam ser reutilizados por outros clientes. Enquanto os FDEs criam soluções específicas para problemas imediatos do cliente, os PDs se concentram em tornar essas soluções generalizáveis e úteis para um público maior, criando ferramentas robustas que melhorem o trabalho dos FDEs e automatizem processos.
Bom, dá pra entender bem como a empresa evoluiu de um modelo de serviços para uma plataforma robusta de dados empresariais, a Foundry, responsável por grande parte da receita atual. Não dá não?
Outro ponto que considerei curioso no texto é a bem cultura peculiar e altamente competitiva da Palantir, descrita como um "culto messiânico" onde debates intelectuais eram super incentivados.
AI & Energia
Artigo muito bem elaborado e que traz uma introdução decente sobre as pautas de mercados de energia, tecnologia, com histórico e reflexões sobre o caminho à frente.
A gente já sabe que são muitos os gargalos para os data centers voltados à IA, mas a energia pode ser o mais crucial e desafiador de solucionar. Se as estimativas de consumo energético desses centros se confirmarem, a atual infraestrutura de energia não vai dar conta de sustentar a demanda.
Geração de energia off-grid, energia nuclear, armazenamento de energia de longa duração (baterias), construção de centros próximos a fontes de energia, otimização da rede elétrica são alguns caminhos possíveis entre muitos outros, como reformas políticas. Mas a discussão sobre energia para data centers passa por temas mais amplos, como a necessidade de construir infraestrutura de forma mais rápida e acessível, o que envolve aprovação regulatória mais ágil, aprendizado contínuo e investimentos substanciais. Complexo!
Google firmou um acordo pioneiro para a compra de energia nuclear de pequenos reatores modulares (SMRs), desenvolvidos pela Kairos Power. O plano é trazer energia livre de carbono 24/7 para as redes elétricas dos EUA, apoiando o crescimento de tecnologias de IA e impulsionando a descarbonização das redes.
Mercados de Predição
Há um mito persistente de que os preços em mercados de previsão, como o Polymarket, representam probabilidades reais de eventos futuros. Bom, acontece que, como é muito bem argumentado neste artigo, essa crença está longe da realidade. A estrutura desses mercados, baseada em livros de ordens, busca equilibrar compra e venda, mas isso não significa que os preços refletem probabilidades ou avaliações precisas.
Tomando como exemplo as oscilações nos preços da campanha de Kamala Harris nas eleições de 2024, é evidente que os movimentos de preço podem não ter correlação direta com a probabilidade real de vitória. Entender essa distinção é crucial para evitar interpretações equivocadas e decisões erradas, especialmente em mercados de previsão de eventos políticos.
No X…
Quer você queira, quer não, a SpaceX possibilitou a existência da economia espacial. Mas não sou eu que estou falando. Don't shoot the messenger!
Recentemente, o mercado de previsões tem sido abalado por um único apostador: Fredi9999, que está movimentando milhões para inflacionar as probabilidades de Donald Trump vencer a eleição de 2024. Com US$ 25 milhões apostados, Fredi elevou o preço de Trump em cerca de 5% em todos os mercados globais, forçando uma queda equivalente nas probabilidades de Kamala Harris.
Esse fenômeno não é inédito — grandes apostas em candidatos republicanos às vésperas das eleições já ocorreram antes. O que chama a atenção aqui é a magnitude e a estratégia de Fredi, que, aparentemente, está criando múltiplas contas no Polymarket para disfarçar suas movimentações.
É difícil saber se estamos lidando com um magnata francês com inclinações arriscadas ou alguém tentando manipular o mercado. Mas o fato é que, com US$ 25 milhões em jogo, esse é um movimento sem precedentes.