#86 As bets e a preocupante financeirização da cultura, a questão do gosto como um novo diferencial competitivo e o futuro das empresas de LLMs
AI
Sam Altman dedicou um tempinho pra escrever um artigo que mais parece uma ode ao futuro da tecnologia do que um post. No texto, ele fala sobre o progresso científico e tecnológico que nos trouxe até aqui, e como a Inteligência Artificial está pronta para acelerar ainda mais essa evolução.
Nas palavras dele, o deep learning foi o grande avanço que permitiu que a IA alcançasse seu potencial, se tornando uma ferramenta para resolver problemas complexos e trazer tração à vida de todos. Mencionando assistentes pessoais virtuais, tutorias personalizados e avanços na saúde e ciência, Altman reitera que a chave para esse movimento está em tornar o poder computacional acessível a todos.
Assim como o software revolucionou o mundo nos últimos anos, a questão do gosto passou a ser o que molda o Vale do Silício. Antes, o domínio técnico era o diferencial. Hoje, todos têm boas tecnologias, então o foco passou a se concentrar na experiência, no design e na relevância cultural. Empresas que combinam utilidade com estilo, como Apple e Tesla, são exemplos de como o gosto pode definir o sucesso.
Na visão do autor, as startups mais promissoras serão aquelas capazes de mesclar tecnologia com sensibilidade cultural. Os fundadores inevitavelmente precisarão ir além do papel de guardiões da cultura e da visão da empresa, se tornando também curadores de tendências. E os investidores devem apostar em quem captura o zeitgeist.
No Vale do Silício, há uma discussão sobre o futuro das empresas de modelos de linguagem (LLMs), com muitos acreditando que elas enfrentarão margens de lucro reduzidas. Mas o cenário pode ser arriscado para startups que dependem dessas APIs. À medida que os LLMs se tornam mais poderosos, é provável que essas empresas avancem oferecendo soluções mais completas e competindo diretamente com seus desenvolvedores, especialmente em áreas como agentes assíncronos de codificação.
Essa tendência pode se expandir além da codificação, com LLMs funcionando como trabalhadores virtuais superinteligentes, eliminando a necessidade de softwares especializados de IA. Então, as startups de IA B2B precisam se preparar para esse cenário. A solução? Criar efeitos de rede, capturar dados proprietários e focar em mercados verticais menores e negligenciados, onde ainda haverá espaço para inovação.
A mensagem da Sarah Tavel aqui é clara: seja ágil, construa moats fortes e mantenha o foco obsessivo no cliente.
Bets e a "financeirização da Cultura"
A financeirização, que antes era um fenômeno estritamente institucional, agora permeia nossa cultura. John Luttig explora nesse artigo que um cenário de juros baixos, boom tecnológico e a cultura do FOMO (sigla para "medo de perder" em tradução literal) são elementos poderosos em no manter atraídos a telas, acompanhando gráficos financeiros. E, segundo ele, esse fenômeno se manifesta de duas formas principais: a cultura da loteria e a cultura do equity.
Na cultura da loteria, vemos pessoas investindo sem uma compreensão clara do valor dos ativos, muitas vezes impulsionadas por movimentos como o meme stock, exemplificado pelo caso GameStop. Já a cultura do equity está transformando trabalhadores em investidores, com profissionais buscando ações como forma de enriquecer.
A combinação dessas culturas está moldando um comportamento e tornando a especulação uma parte dominante da sociedade. Ainda que as consequências no longo prazo sejam incertas, uma coisa é certa: parece que a financeirização da cultura veio para ficar.
Em agosto, beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de apostas, segundo o Banco Central. Isso representa 21% do valor total repassado pelo governo no mês, com uma média de R$ 100 transferidos por beneficiário.
A pesquisa compartilhada pelo Estadão também revelou que 5 milhões de beneficiários apostaram online, sendo 70% chefes de família. O volume crescente de transferências via Pix para apostas online preocupa o BC, que estima que, mensalmente, os brasileiros gastam até R$ 21 bilhões com essas plataformas.
E, claro, há consequências para esse novo comportamento. Esse artigo evidencia os danos financeiros gerados pela legalização das apostas esportivas online, especialmente em homens de baixa renda. Com o aumento de dívidas, queda nas pontuações de crédito e maior número de falências, os efeitos são bem preocupantes. Em estados onde o jogo online é legal, as pontuações de crédito caem em média 1%, e a probabilidade de falência aumenta até 30% após alguns anos.
Embora a maioria dos apostadores jogue com responsabilidade, uma minoria significativa sofre consequências graves. Acontece que a indústria de apostas lucra justamente com os jogadores mais vulneráveis. Passou da hora dos legisladores reavaliarem o impacto real dessas apostas e implementarem medidas para proteger os consumidores.
Separei dois papers super importantes para aqueles que tiverem interesse em se aprofundar no tema: Paper 1 | Paper 2
Novo essay do Paul Graham
Há sempre um debate sobre a ideia de "seguir nossa paixão". E às vezes isso faz sentido, mas às vezes também não faz. Se o foco é apenas dinheiro, você pode não ter o luxo de se guiar pelo que mais gosta. Porém, se você encontra algo que ama e que o mercado também valoriza, o cenário é diferente.
Para quem quer criar algo grande, como uma startup, trabalhar no que você ama pode ser o melhor caminho. Muitos dos maiores sucessos começaram como projetos apaixonados. O fato é que quanto antes você começar a explorar suas paixões, melhor será para descobrir o que realmente te motiva. Artigo muito bom na abordagem desse dilema.
No X…
Eu sei, eu sei, a plataforma não voltou, mas ainda temos excelentes conteúdos por lá. Então eu vou trazer o print de dois que chamaram minha atenção enquanto eu estava fora do país.
Um panorama com menos IPOs em 2022-2024 vs. bolha do dot com e a crise de 2008:
Um apanhado com os 10 anos da visão de longo prazo do Zuck (e ele realmente fez tudo que prometeu):