#59 Devin e o dilema dos engenheiros de software, AI e o state of things da internet
O case da Cognition AI Inc.
É quase certo que você nunca ouviu falar dessa startup, em parte porque ela vem tentando se manter em segredo e em parte porque ela nem sequer existia oficialmente como uma corporação até dois meses atrás. E, no entanto, essa companhia muito, muito jovem, com uma equipe de 10 pessoas, levantou US$ 21 milhões da empresa de capital de risco de Peter Thiel, Founders Fund, e de outros investidores de nome, como o ex-executivo do Twitter, Elad Gil. Eles apostam na equipe da Cognition AI e na sua principal invenção, que se chama Devin.
Devin é um assistente de desenvolvimento de software no estilo do Copilot. Em vez de apenas oferecer sugestões de codificação e completar automaticamente algumas tarefas, ele consegue assumir e finalizar um projeto de software inteiro sozinho.
À medida que Devin trabalha, ele informa sobre seu plano e, em seguida, exibe os comandos e o código que está usando. Se algo não parecer certo, você pode avisar a IA para corrigir o problema e ele incorporará o feedback no meio do caminho. A maioria dos sistemas de IA atuais tem dificuldade em se manter coerente e concentrado nas tarefas durante esses tipos de trabalhos longos, mas Devin continua realizando centenas e até milhares de tarefas sem sair do caminho.
Então, é menos como um assistente ajudando com o código e mais como um verdadeiro trabalhador fazendo suas próprias coisas. o diferencial se dá justamente por ser um sistema autônomo que pode fazer algo pelo usuário. Devin é excelente na prototipagem de projetos, na correção de bugs e na exibição de dados complexos em formatos gráficos. A maioria dos outros assistentes descarrilam após quatro ou cinco etapas, mas ele mantém seu estado quase sem esforço durante todo o trabalho.
Agora, exatamente como a Cognition AI fez essa descoberta, e em tão pouco tempo? É um mistério - pelo menos para quem está de fora. Scott Wu, um dos fundadores da Cognition AI, se recusa a falar muito sobre os fundamentos da tecnologia, exceto que sua equipe encontrou maneiras únicas de combinar grandes modelos de linguagem (LLMs), como o GPT-4 da OpenAI, com técnicas de aprendizagem por reforço.
Do Twitter…
Os desenvolvedores de software ficam se perguntando o que essa nova tecnologia significa para seus meios de subsistência, e o resto de nós se pergunta o que isso significa para o avanço do software em grande escala. Pode-se argumentar que esses assistentes de codificação libertarão os desenvolvedores do trabalho enfadonho das tarefas mundanas e permitirão que eles se concentrem em trabalhos mais criativos. Mas, claro, há uma contrapartida que não pode e nem deve ser ignorada, os assistentes poderiam eliminar enormes quantidades de empregos de desenvolvedores bem remunerados e virar a indústria de software de cabeça para baixo.
Gergely Orosz foi bem vocal a esse respeito, inclusive. Tendo estado à frente dos projetos de engenharia de software em empresas como Uber, Microsoft, JP Morgan, Skyscanner e Skype, não poderíamos esperar que ele se abstivesse de expressar sua discordância ao caminho que está sendo pavimentado com o Devin.
"Peço desculpas, mas não amplificarei startups cuja missão é substituir totalmente engenheiros de software por ‘desenvolvedores de IA’. Está claro por que os VCs e os investidores adoram essa ideia; e por que os fundadores também. Imagine quanto dinheiro eles poderiam ganhar se tivessem sucesso! Eu odeio a ideia desse futuro."
Flo Crivello compartilhou que tem recebido muitas perguntas sobre a possível iminência de uma onda de desemprego em massa como consequência dos desenvolvimentos em AI, ao que ele provoca nos lembrando de que o cerne da questão é: pode haver algo como “muito código” no mundo?
Mas nem todo mundo vê relação causal entre Devin e o futuro da engenharia de software. Rex Salisbury discorre longamente sobre o por que ele não acredita que os profissionais do setor podem ser substituídos por AI.
AI
No final do ano passado, a Coatue publicou sua visão referente ao que chamam de "A Revolução da Inteligência Artificial". Apesar de não ser um conteúdo super fresco, é muito bom porque a apresentação traz diversas considerações importantes que informam a abordagem de investimento em IA deles. Recomendo demais.
A nFx publicou um trecho do talk “The Startup Advantage in AI” que traz de maneira muito interessante as vantagem das startups em relação aos incumbentes.
Outros
A Annual Letter da Stripe se propõe a oferecer o panorama do "state of things" da Internet, e faz muito bem o que se propõe.
Review do Vision Pro muito bem elaborado e apresentado, feito pelo meu amigo Hugo Barra, que esteve muitos anos na Meta, no time do Oculus.
Por fim, trago um artigo que demonstra como a IA está interrompendo a demanda por engenheiros de software, baseado em dados de 20 milhões de ofertas de emprego em tecnologia, de novembro de 2022 a fevereiro de 2024.