#106 AGI como motor da economia, IA entrando nos laboratórios como co-cientistas (by Google) e a recessão global dos relacionamentos
AI
Satya Nadella, CEO da Microsoft, trouxe alguns insights bem interessantes nessa conversa com Dwarkesh Patel. Um dos pontos que mais chamou minha atenção foi a forma como ele mede o sucesso da AGI: para ele, o verdadeiro benchmark não é um marco técnico, mas sim o impacto econômico real. A AGI só será transformacional de verdade se conseguir impulsionar o crescimento do PIB global para 10% ao ano. É uma visão bem pragmática, e faz todo sentido se pensarmos na escala do que está em jogo.
Outra questão que vale prestar atenção é o debate sobre quem captura mais valor nessa revolução. O mercado de IA vai ter um único grande vencedor ou existe espaço para múltiplos players? Nadella acredita que o jogo não será "winner takes all", especialmente no nível das empresas. Governos e grandes corporações não vão querer depender de uma única entidade, e é aí que entram concorrência e alternativas open-source. Ele compara esse momento com o início do cloud computing, quando também se achava que seria um mercado comoditizado – mas, na prática, a infraestrutura em nuvem se tornou um dos negócios mais lucrativos da tecnologia.
Mas talvez o detalhe mais curioso de toda essa história seja o fato de essa entrevista ter acontecido. Dwarkesh simplesmente mandou um cold e-mail para o Nadella em um sábado (!). E o CEO da Microsoft respondeu em quatro minutos (!!!). Um daqueles momentos que mostram que, às vezes, tentar é a ação mais importante de todas. Coloquei o tweet sobre essa interação no final da RL.
Aproveitando, notícias dos outros players de big tech essa semana:
A Meta está planejando um investimento pesado no desenvolvimento de robôs humanoides equipados com IA. A ideia não é lançar um robô com a marca Meta de cara, mas sim criar tecnologias fundamentais (como sensores, IA e software) que possam ser aplicadas por outras empresas. Para isso, a empresa já está em conversas com nomes como a Unitree Robotics e a Figure AI.
Andrew Bosworth, CTO da Meta, aponta que o trabalho que já fazem em realidade aumentada e IA tem tudo a ver com robótica, tornando esse movimento natural. Além disso, a empresa pretende investir até US$ 65 bilhões em infraestrutura de IA em 2025, incluindo um novo centro de dados de grande porte.
O Google está apostando em IA para acelerar descobertas científicas com uma ferramenta chamada co-scientist. A ideia é que ela funcione como uma parceira de pesquisa, ajudando cientistas a encontrar lacunas no conhecimento e sugerir novas hipóteses. Em testes com a Stanford e o Imperial College London, a IA já mostrou serviço, trazendo descobertas que poderiam levar muito mais tempo com métodos tradicionais.
Um exemplo interessante foi a identificação de um mecanismo genético que pode ajudar a entender por que algumas bactérias se tornam imunes a antibióticos, um desafio enorme na medicina. Além disso, ela sugeriu formas de reaproveitar medicamentos já existentes para tratar doenças no fígado, o que pode economizar anos de pesquisa e bilhões de dólares. O grande diferencial? Em vez de só responder perguntas, essa IA propõe ideias antes mesmo dos cientistas formularem hipóteses.
Scott Belsky (um dos meus preferidos no Substack) trocou a Adobe pela A24. Do mundo do design e produtos emergentes para o universo do cinema independente. Até que faz sentido pra alguém que sempre apostou na força da curadoria e das boas histórias. Aos demais fãs, como eu, nada a temer: o Implications segue firme.
Nesta edição, ele traz três temas que estão redefinindo a tecnologia. Primeiro, o fim da fricção intencional. Sabe aquelas barreiras burocráticas que empresas criam para dificultar reembolsos, pedidos de seguro ou cancelamentos? A IA está derrubando essas táticas. Serviços como DoNotPay já mostram que bots podem peitar processos antes desgastantes. Bom para o consumidor, péssimo para quem lucrava com essa resistência.
Ele também aborda a evolução dos agentes de IA. De assistentes básicos a sistemas totalmente autônomos, Belsky divide essa jornada em cinco estágios. Mas ele faz uma provocação: será que estamos presos à ideia de que IA precisa funcionar como um humano? A história do design já mostrou que tentar replicar padrões antigos pode ser um freio para inovação.
Por fim, gamificação. De apps de idiomas a metas fitness, o conceito está por toda parte. Mas agora está migrando para trabalho e educação. A geração que cresceu com Roblox e Minecraft espera um mundo mais interativo. O risco? Criar incentivos que façam as pessoas jogarem o sistema em vez de realmente aprenderem ou trabalharem melhor.
Estamos à beira de uma mudança histórica: pela primeira vez em mil anos, a população humana começará a encolher: menos nascimentos, mais mortes, sem sinais de recuperação. Ao mesmo tempo, estamos criando milhões de IAs, robôs e agentes, que não só produzem, mas também podem consumir, negociar e interagir. Kevin Kelly chama esse movimento de 'The Handoff': a transição da economia dos Nascidos para a dos Feitos.
Ele sugere que sempre crescemos com base em mais trabalho, mais consumo, mais gente. Mas o que acontece quando o mercado encolhe e simplesmente não há humanos suficientes para manter a roda girando? Para ele, a resposta pode estar na criação de uma nova camada econômica movida por máquinas, que trabalham para outras máquinas, garantindo que o progresso continue mesmo sem uma população crescente.
Isso significa que os humanos perdem relevância? O autor argumenta que não. Para ele, o que antes era "trabalho" passa a ser dos bots, enquanto os poucos humanos que restam podem se concentrar no que é essencialmente humano: arte, criatividade, exploração, conexões. O sistema que sempre valorizou produtividade e eficiência poderia, nesse cenário, libertar as pessoas disso. Mas a questão central, segundo ele, é: estamos prontos para redefinir o que significa progresso?
O Vale do Silício voltou a se distanciar do resto do mundo. Depois de anos de dispersão do talento e capital para outros polos, a IA trouxe um novo ciclo de concentração na região.
O que mudou? Startups estão crescendo a um ritmo inédito, atingindo US$ 1 milhão de ARR em questão de meses. Essa métrica, usada por empresas de software e serviços de assinatura, indica a receita previsível que uma empresa gera em um ano, sendo um dos principais termômetros de crescimento. O ecossistema de fundadores está mais produtivo, impulsionado por ferramentas de IA que aceleram codificação, design e vendas. O dinheiro acompanha: 71% do capital de risco no Vale em 2024 foi para IA.
O impacto global? A Índia tem a vantagem de uma infraestrutura digital robusta e pode focar em aplicações de IA para seus próprios desafios. A Europa tem expertise industrial e pode competir apostando em IA open-source e deep tech. Mas a dinâmica é clara: as decisões críticas sobre IA, desde arquiteturas de modelo até políticas de segurança, estão sendo definidas na Califórnia. Quem quiser acompanhar a próxima fase da tecnologia precisa olhar para lá.
Larry Ellison
Larry Ellison nunca joga para perder. Aos 80 anos, ele segue no centro das grandes movimentações, transformando cada revés em vantagem. Quando Trump anunciou o Stargate Project, um plano bilionário para IA, lá estava Ellison, chamado de "CEO de Tudo". A Oracle, que parecia ter ficado para trás na era da nuvem, se reposicionou como peça-chave no treinamento de modelos de IA, garantindo contratos milionários e vendo suas ações dispararem 50% em 2024.
Ele opera assim há décadas. Nos anos 90, convenceu clientes de que deveriam adaptar seus negócios ao software – não o contrário. Quando a internet virou tendência, apostou tudo antes dos concorrentes. Até na America’s Cup, quando sua equipe estava prestes a perder, encontrou uma forma inédita de velejar contra o vento e virou o jogo. Agora, com a IA, repete o movimento: transforma fraquezas em força e faz parecer que o plano sempre foi esse.
No X…
Como prometido no começo da newsletter, um lembrete sobre o poder de um cold e-mail.
A era de domínio absoluto da OpenAI acabou. xAI, Google e DeepSeek já estão no mesmo nível, e sem acesso a dados únicos, frontier models se tornam ativos de rápida depreciação. Satya Nadella percebeu isso e, em vez de bancar US$ 160 bi no pré-treinamento da OpenAI, prefere lucrar com inferência. Microsoft também está cortando data centers, indicando um possível excesso de capacidade. O jogo agora não é só sobre modelos maiores, mas sobre eficiência, acesso a dados e IA on-device.
A briga pela atenção nunca foi tão cara. Desde os anos 2000, anúncios no Super Bowl e no horário nobre dispararam de preço, refletindo a competição acirrada na era digital. Captar audiência virou um jogo de alto custo.
O mundo está vivendo uma recessão de relacionamentos: menos jovens estão se casando ou morando juntos, e isso está diretamente ligado ao declínio das taxas de natalidade. O curioso é que essa queda é global, indo da Ásia às Américas, sugerindo que não é só cultura ou economia, mas uma mudança estrutural na forma como as pessoas encaram a vida a dois.